quarta-feira, 28 de abril de 2010

cena 16

Sala de estar de Zé e Tó.
Os irmãos estão sentados em frente ao televisor, a assistir à extracção dos números do Euromilhões. Discussão acalorada.

Zé Vais-me aparecer a chorar: «Deixa-me entrar, Zé… por favor, Zé… desculpa.» E eu vou dizer: «Vai-te foder – bem te disse para não comprares o barco…»
Tó Iate… é a merda de um iate e não vou precisar de rastejar aos teus pés. Vai ser precisamente o contrário. Tu é que me vais implorar para te deixar ficar…
Zé Nem pensar!
Tó Vais ver. Vais ter de implorar quando a tua mansão arder.
Zé A minha mansão não vai arder.
Tó Isso é que vai. A tua cerca electrificada vai explodir devido a uma falha técnica e a tua casa vai arder.
Zé A minha cerca electrificada não tem problema nenhum.
Tó Tem um defeito de fabrico!
Zé Cala-me essa boca!
Tó O fogo vai destruir tudo.
Zé Ca-la-te.
Tó Vais ficar sem nada outra vez.
Zé Pára com isso.
Tó Sem nada, nada, nada.

Zé dá um murro a Tó, derrubando-o. Silêncio.
Tó permanece no chão por um momento antes de se sentar e apertar a cabeça, cheio de dores.

Zé Desc… meu Deus, Tó, eu não queria…
Tó Que é que a Mamã disse?
Zé Eu sei…
Tó Foi a única coisa que a Mamã nos pediu, Zé.
Zé Desculpa.
Tó Que é que adianta pedir desculpa? Para que é que isso serve agora? Está tudo estragado, Zé. Não cumprimos a promessa. O último desejo da nossa mãezinha querida.
Zé Não devia ter reagido assim. Não devia ter perdido a cabeça.
Tó Pois não, não devias.

Tó levanta-se e prepara-se para sair da sala de estar.

Zé Onde é que vais, Tó?
Tó Vou-me embora, Zé. Nem sequer consigo olhar para ti. Não aguento estar na mesma sala que tu. Nunca mais te quero ver.
Jacob De facto, nunca mais o viu – mas se o Tó tivesse adivinhado que estava a falar com o irmão pela última vez, talvez tivesse escolhido melhor as palavras.

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